quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Banhista

O fotógrafo francês Stephane Lallemand fez algumas recriações de quadros famosos do pintor do século 19 Jean Auguste Dominique Ingres. Abaixo, suas versões para A Banhista e La Grande Odalisque.



sábado, 7 de novembro de 2009

Ron Mueck








Trabalhos do australiano Ron Mueck. Embora não pareçam, todos são esculturas.

domingo, 1 de novembro de 2009

Crítica arrependida


E não é que a gente muda?
Há um tempo escrevi sobre um livro da Cláudia Laitano. Falei bem, mas nunca publiquei. Fui reler e vi que tinha mudado de ideia. Desgosto dos textos dela mais e mais a cada dia. O que antes me parecia lucidez, agora me parece apenas o senso comum, e o que parecia sensatez, parece só um conservadorismo tedioso. Quem mudou? Ela ou eu? Lembro que escrevi logo depois de tê-la conhecido em um evento, o que deve ter me influenciado, já que ela foi simpática. Sinceramente, a maternidade pode tê-la deixado mais feliz, mas a tornou mais chata também.

Mesmo assim, só para reciclar lixo eletrônico, reproduzo abaixo o texto que escrevi já faz meses e com o qual hoje discordo em grande parte.

Agora eu era

O jornal Zero Hora mantinha, nas sua página 3, uma coluna diária do Luis Fernando Veríssimo. Há uns cinco anos, LFV pediu pra reduzir a carga de trabalho, então o jornal chamou outros colunistas para escreverem semanalmente ali. E foi um time de peso, pelo menos em termos de vendagens de livros. Tem o imortal Moacyr Scliar num dia, a publicitária Martha Medeiros em outro, o tenebroso David Coimbra e também a jornalista cultural Cláudia Laitano, o patinho feio da página 3, sendo a única que ainda não tinha livro publicado. O jejum acabou com Agora eu era (2008, Record, 188 páginas).

Agora eu era é uma coletânea com 61 crônicas (mais um prefácio-crônica) publicadas nos últimos cinco anos no jornal Zero Hora. Como boa cronista, Cláudia usa como ponto de partida tudo aquilo que tiver mais à mão: filmes, livros, seriados e comerciais de TV, letras de música, reportagens. A leveza com que cria os temas é que a diferencia dos demais. Assim, ela dá um jeitinho para que Chico Buarque, Harry Potter, Saramago, Homer Simpson, Guimarães Rosa, Genival Lacerda e a boneca Barbie convivam em harmonia.

Está pronto para uma comparação estúpida? Não? Então vamos lá. Ela é da geração da Martha Medeiros. Mas, ao contrário da escritora pop, é divertida sem forçar a barra; é contundente sem recorrer a ironias pesadas; tem um texto leve e descompromissado, sem a superficialidade da MM; escreve para todos, mas sem nivelar por baixo, como a sua colega de jornal; é nostálgica sem ser piegas; filosofa sem resvalar na autoajuda. Ah, provavelmente isso não é importante, mas é mais bonita e simpática também.

A capa:
A capa de Miriam Lerner e o miolo também merecem menção, sendo adequados ao espírito leve do livro.

Uma frase do livro:
A história às vezes insiste em se construir a partir de material altamente deletável.

O que já disseram:

Luis Fernando Veríssimo: Um texto límpido, com a dosagem certa de humor e seriedade, e pitadas de lirismo. Resultado: uma cronista saborosa.

Jorge Furtado, diretor de cinema: Boa memória, inteligência, ótimo texto, bom humor, personalidade, coragem. O que mais você espera de uma cronista?
Djegovsky:
É o tipo de livro que leio devagarinho, que é pra durar mais.


Trecho do livro:

Vaidade
(Cláudia Laitano)

Da série “Livros que eu gostaria de escrever (mas não vou)”: Tratado mínimo sobre a vaidade máxima – Memórias de uma jornalista cultural. Meu livrinho começaria com um pequeno ensaio histórico ilustrado por reflexões luminosas dos grandes pensadores e citações que remontariam ao Eclesiastes (“Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, e coisa e tal, com perdão do clichê). Depois viria uma galeria de clássicos da literatura que tematizam a vaidade, entre eles o genial Teoria do medalhão, de Machado de Assis. (Aqui entre nós, esse conto diz mais ou menos tudo o que eu gostaria de dizer sobre vaidade. Donde, se você se interessa sobre o assunto e tem uma certa pressa, sugiro que fique lendo Machado enquanto eu não publico o tal tratado.) Depois de despejar toda a erudição que eu não tenho nos dois capítulos iniciais – o bom de planejar livros que não vão ser escritos é que a gente pode ser muito ambicioso – viria a parte realmente divertida: um minucioso levantamento das situações de vaidade escancarada que eu presenciei ao longo de toda uma vida profissional cobrindo a área de Cultura. O relato começaria com o espanto da jovem repórter ingênua diante do delírio egoico de determinadas figuras que ela costumava admirar. Passaria por casos engraçados, outros patéticos, alguns deprimentes, num longo e tortuoso aprendizado que culminaria no estágio em que nada, absolutamente nada, no terreno da autopromoção seria capaz de espantar a calejada jornalista. A cereja no bolinho seria um laudatório prefácio sobre a autora, escrito por alguma figura muito importante da cultura local – provando que mesmo os mais eloquentes críticos da vaidade alheia são incapazes de perceber quando ela lhes ataca o próprio flanco. Nenhuma atividade humana está livre do pavonismo. A cabotinagem é antes de tudo um estado de espírito, uma maneira de cavar seu espaço no mundo – como Machado de Assis tão bem demonstra na Teoria do medalhão. Mas é óbvio que quem se expõe mais, como os artistas em geral, tem mais chances de enamorar-se da própria imagem. Picasso, por exemplo, achava que era o maior pintor do século 20. E era. Chato é quando o sujeito gostaria de ser tratado como Picasso mais até do que pintar como ele. Geralmente estamos diante de alguém que está desperdiçando energia no lugar errado, tenha ou não qualquer talento. O preço da lucidez é a eterna vigilância. Tenho que lembrar de botar isso no livrinho.


Trecho da Crônica Memórias Roubadas:

Não sou do tipo que tem saudades do vinil, do telefone com discador ou do elevador com pantográficas. Mas ninguém me convence de que a tecnologia das câmeras digitais não está roubando as memórias do futuro. Todo o princípio – muito racional e lógico – dessas câmeras é baseado no erro zero. A foto ficou boa? Ótimo. Não ficou? Delete. Aqui no jornal já é assim. O fotógrafo sai para a rua, faz 30 ou 40 fotos, sei lá, e no caminho de volta já vem selecionando o que fica e o que vai para o espaço. Tudo muito racional, muito lógico. O problema é que o que hoje é secundário, descartável, daqui a 20 ou 30 anos, ou mesmo na semana que vem, pode ganhar todo um novo significado, talvez impossível de ser percebido com os olhos de hoje. A história às vezes insiste em se construir a partir de material altamente deletável.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Van Gogh

Blogue de Barbara Decouti, voltado para intervenções e/ou interpretações de obras do Van Gogh. São contribuições do mundo todo, e a maioria é bem tosca, mas tem alguns legais.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Uma Leve Simetria

No terceiro livro de Rafael Bán Jacobsen, Uma Leve Simetria (Não Editora, 2009) vemos alguns elementos do seu romance anterior (Solenar), como a delicadeza com quem trata temas tabus, o cuidado com a palavra, a presença de um personagem jovem e bastante amadurecido, o questionamento existencial. Ainda assim, essas semelhanças, que poderiam parecer um esgotamento de recursos, somente evidenciam a consolidação de um estilo característico do escritor.

Uma Leve Simetria mostra, pelos olhos de um narrador em primeira pessoa, os conflitos de um amor proibido. E contar mais talvez seja contar demais.



Trecho do livro:
“A negativa veio com firmeza: não.
Quero te pedir uma coisa, Daniel: não comentes sobre isso com ninguém.
Permaneci calado. Nesse pedido, o golpe final: sim, o que eu sentia era proibido; sim, as palavras, os carinhos, a ânsia, tudo tinha de ser amortalhado no silêncio. Sem resposta, o rabino insistiu: prometes para mim?
No lugar da promessa, uma indagação: por que não posso gostar dele?
Não me perguntes isso, Daniel, por favor.
Tudo poderia ter acabado nesse instante: a conversa, com um assentimento; minha história com Pedro, com uma automutilação; meus devaneios e desespero, com o tempo – da eternidade. Mas o que o rabino Levi disse, a seguir, aniquilou o pouco de mim que ainda lutava: se olharmos friamente para a Lei, nada impede o gostar; contudo, a realização é vedada. Entendes, Daniel?
Sim, eu entendia. O mandamento era ainda mais cruel do que parecia a princípio, um cântico terrível que, em vez de trazer paz e alento, inflamava conflitos. Eu poderia viver para sempre querendo pedro, buscando, no ventre solitário das madrugadas, sua imagem para me acalentar; nunca, porém, a vontade divina se alegraria caso fosse concedida a mim a graça de traduzir o delírio em toques ou palavras sopradas ao ouvido dele, prenunciando o mais sublime enlevo. Nessa hora, então, o sangue derramado sobre nossas cabeças.”



O que já disseram:
Moacyr Scliar
, imortal:
Uma leve simetria revela-se uma grata surpresa. Com grande sensibilidade e não menor talento literário, Rafael Bán Jacobsen narra-nos uma história que, tendo como moldura a vida comunitária judaica com seus costumes e suas tradições, representa, contudo, um verdadeiro mergulho na condição humana – uma obra que, desde já, consagra o seu autor como um importante nome na nova geração de escritores brasileiros.”

Léa Masina:
“Não se trata de mais uma história judaica, do tipo que se enquadra num regionalismo étnico e urbano. Muito embora os usos e costumes formem o substrato concreto dessa narrativa – e são muitas as expressões que remetem a essas particularidades culturais e a contextualizam –, o que interessa ao leitor é o desenvolvimento dos conflitos e das relações humanas; em especial, o desenrolar da história de amor entre dois adolescentes, que alcança momentos sublimes, sem jamais resvalar nesse terreno perigoso, onde a caricatura e o maniqueísmo são ameaças constantes.”

Carlos André Moreira, jornalista:
Uma Leve Simetria trata de um tema antigo como o mundo: o embate entre aspirações de uma fé religiosa pura e o desejo proibido da carne. O que Jacobsen faz em sua narrativa é inverter o foco, ao apresentar esse tema aplicado a uma atração proibida entre dois rapazes. Um tema que o livro também proclama antigo como o mundo.”

Solenar


Um livro fácil de ler, mas difícil de escrever. É a impressão que fica ao nos depararmos com a estrutura de Solenar (Movimento, 2005), segundo livro do jovem escritor Rafael Bán Jacobsen. A narrativa de 219 páginas começa em 1954, com o relato de Henrique Kolling, jornalista que viaja à cidade interiorana de Passo dos Tropeiros para investigar uma tragédia ocorrida trinta anos antes com a tradicional família Solenar. As páginas de sua investigação na cidade são intercaladas com cartas e trechos de diários dos personagens envolvidos na misteriosa tragédia familiar. E é nesse ponto que começa o jogo do escritor com o leitor.

Aquilo que em princípio parece apenas um quebra-cabeças que se monta com paciência, com cada peça contribuindo para a construção da imagem final, se mostra um engodo: as peças se encaixam perfeitamente, mas a paisagem que aparece está encoberta por uma fina névoa que aos poucos se dissipa, para mostrar uma outra imagem novamente. Isso porque percebemos que nem todos os relatos são confiáveis. Diante das informações desencontradas, ou mesmo inverossímeis, como saber o que é relato verídico e o que é delírio, como saber onde está a verdade, se é que ela existe? Byron teria escrito, em seu diário: “Só Deus sabe as contradições que este diário pode conter. Se sou sincero comigo mesmo (infelizmente mente-se mais para si do que para os outros), cada página deve invalidar, refutar e inteiramente repudiar a que a antecede”.

Diferente de outros da nova geração de autores gaúchos, Jacobsen prima pelo esmero da construção da frase, valorizando cada escolha lexical. Outra coisa que chama a atenção no livro é a caracterização que o autor faz de cada personagem, não apenas nos aspectos físico e psicológico, mas pelos diferentes escritos. Há um menino de 13 anos, seu irmão mais velho, uma velha senhora e outros, e cada um tem seu estilo próprio de escrever (com algum destaque para o diário de Ismael). O fato estranho é que todos escrevem bem.

Trechos de Solenar:
Do Diário de Ismael Liedke Solenar, dia 19 de novembro de 1924:
“(...) Despertei afogado na escuridão, com a garganta queimando; ela estava em meu quarto, eu podia sentir, ou talvez fosse apenas um rato, visitante sem convite nesta madrugada de ruídos rastejantes. Quieto, até as pontas geladas dos dedos, estava novamente confinado ao sepulcro de meus ossos, desejando que a angústia acabasse. Pensei no internato, na voz do professor longe dos meus ouvidos – a água oxigenado misturada ao sangue do rato... –, no animal morto sobre minha classe, em coisas tolas que agora tomavam novo significado. Os demais garotos pareciam atentos, perplexos ante a química da vida, enquanto eu me indagava sobre a morte, a inércia fatal induzida pelo clorofórmio, a boca entreaberta no último hausto, todos detalhes físicos de que se veste o não existir. Viver, morrer, a verdade que sustenta o paradoxo é uma só, um ciclo perpétuo e inviolável de destinos trançados. A única diferença entre o internato e a estância é que, aqui, os ratos ainda vivem.




Outro trecho:

Do Diário de Ismael Liedke Solenar, primeiro de dezembro de 1924:
“(...) Lá dentro, surpreendentemente, um calor úmido me envolveu, queria ficar ali, para sempre, e ela, acomodando-se em um canto, trouxe-me ao seu colo. O abraço quente me envolvia enquanto arrepios trêmulos percutiam-me os músculos; o coração que escutava bater junto ao meu ouvido parecia ser o mesmo que me dava vida. Então, banhados pela luz do estranho luar, revelou-me seus seios claros, ansiosos, num pulsante convite prontamente correspondido pela fome de minha boca. Pus-me a sugar com avidez, feito uma criança, como se assim pudesse não só matara a sede de tantos dias perdido no deserto mas também toda fome que viera ao mundo; e, num crescente desespero, prisioneiro do delírio, enterrei meus dentes na pele, rasguei-a,sentindo um líquido espesso inundar minha garganta. E quanto mais lhe devorava o peito, mais forte se fazia seu abraço; quanto mais o sabor confuso de sua carne me convulsionava a língua, mais o meu desejo se aguçava – até asfixiar-me, uma cascata de sangue a inundar os pulmões. Meu tórax se comprimia, as artérias do pescoço se dilatavam, grossas feito cordas, e ela suspirou: a carne que comes e o sangue que bebes são os mesmos teus.
Acordei sentindo a umidade abundante dos lençóis, atirei-os longe.”



O que já disseram:
Lea Masina:
“Todos os ingredientes que se esperam de um bom romance aí estão: amores conflituosos, relações incestuosas, perseguições e ódios implacáveis, medo, crueldade, ambição, preconceito, sofrimento e morte. Tudo isso gestado pelas personagens que, ao registrar seus sentimentos, constroem-se umas às outras, completando os fragmentos dos relatos como quem tece um bordado de fina trama.”

sábado, 12 de setembro de 2009

Filme Inacabado

Há muito tempo, eu devia ter uns 9 anos, fui ver um filme com minha mãe e meu irmão. Era no antigo Cinema Cacique, que depois foi desativado para virar o Bingo Cacique, que incendiou e hoje é um estacionamento. Lembro pouco da história do filme. Sei que era algo diferente do que estava habituado a ver. A história era meio fantástica, mas não infantil, meio assustadora, mas não era terror, um pouco drama, mas tinha aventura. Mas o que me lembro mais nitidamente daquela sessão é que, depois de quase uma hora de projeção, faltou luz.

Parecia uma falha técnica temporária, coisa não rara até. Só que ficamos na escuridão por muito tempo, não sei dizer quanto, e a luz nunca voltou. Saímos do cinema com um ingresso para assistir outra sessão, num outro dia.

Só sei que, enquanto não ia à nova sessão, fiquei atormentado por aquela interrupção repentina. Como assim parar um filme no meio?! Da minha cabeça não saía a última imagem antes do blecaute: uma moça estava na cama à noite, no seu quarto, com a janela aberta, o vento balançava as cortinas brancas e algo estava prestes a acontecer.

Na semana seguinte, minha mãe e meu irmão me convidaram para ver o filme de novo, de graça. Não sei por que, recusei e inventei alguma indisposição. Hoje penso que pode ter sido proposital, apenas com o intuito de preservar aquele momento, aquele clímax inacabado, aquele mistério sem solução, aquela suspensão do tempo.

O filme se chamava Na Companhia dos Lobos, e nunca mais o vi. Nunca me deparei com ele na TV nem em locadoras.
Por favor, não me contem o final.

sábado, 29 de agosto de 2009

WILCO E WEEZER

Apesar de achar que este bloghe também teria espaço para falar de música, nunca cheguei a me animar para isso. Talvez porque ache que há uma diferença essencial entre cinema & literatura e música. A ideia dos escritos aqui é dar minhas impressões sobre algumas obras, de maneira que possa dar algumas dicas de entretenimento inocente para meus poucos amigos. Mas logo percebi que isso não funciona com música. É que assim: posso não gostar de um filme e alguém me convencer que há aspectos que posso apreciar no filme, mesmo que sejam detalhes. Com bons argumentos, posso ser convencido de que algo até então fraco ganhe algum valor que eu não havia apreciado anteriormente. O mesmo ocorre com filmes. Mas com música a história é bem outra. Não acredito que alguém poderia me convencer a gostar de uma música que não suporto. Posso reconhecer a importância histórica de Bach, mas acho-o chato e ninguém vai me convencer do contrário. Podem dizer que Rossini é simplório, um compositor menor, mas vou continuar achando-o o máximo. Para mim, o gosto por música é algo profundamente pessoal. As razões para gostar de uma música são muito mais sentimentais que racionais.

É por isso que jamais poderia argumentar tentando convencer alguém de que uma música de que gosto é boa. Por exemplo, há duas bandas que considero hoje as duas melhores do mundo: WILCO e WEEZER. Mas nunca poderia me dar ao trabalho de convencer alguém disso.

posso dizer que pra mim são um refresco em tempos em que a crítica considera o pasteurizadíssimo U2 uma das maiores bandas de rock da história e o insuportavelmente chato Radiohead a melhor coisa surgida na última década. (Ah, falando nisso também vi os discos da Madonna figurarem entre os “Clássicos do Rock” num catálogo da Fnac, ao lado de Ac/Dc, Kiss, Queen e, é claro, U2).

WEEZER E WILCO têm algo que poucos têm hoje, que é vida. Apesar de bastante diferentes entre eles, têm características raras de se ver hoje em dia: são vibrantes, poéticos, inteligentes, engraçados, honestos, intensos, singelos, verdadeiros. Tudo aquilo que a vida deveria ser e não é.

sábado, 22 de agosto de 2009

Façanha?


Leio que o filme Cidade de Deus (um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos) está em terceiro lugar em uma lista do IMDB de melhores filmes da última década. Uau!

O problema é que a lista cai em descrédito total quando se descobre os que estão nas primeiras posições:

1º: Batman - O Cavaleiro das Trevas (o filme mais superestimado pela crítica moderinha atual)

2º O Senhor dos Anéis (hmm, quem sabe Harry Potter poderia entrar na lista também?)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Amor Supera Tudo

Tenho notado uma coisa chata ao ler algumas opiniões sobre filmes. Em boa parte delas se diz que o filme em questão é uma história que mostra que “o amor supera tudo, inclusive o tempo”. Nem sempre dizem desse jeito, mas, com algumas variações, a ideia básica é essa. Já disseram isso de Benjamin Button. Sobre Quem quer ser um milionário já falaram algo parecido. Só sei que tenho fugido com tudo que posso de filmes que mostram como “o amor supera tudo, até mesmo o tempo”. Outro dia ouvi, na TV, essa definição de um filme: “é uma emocionante história de coragem e superação”. O que houve? Só porque os livros de autoajuda são um sucesso comercial estão querendo vender os filmes como se fossem sempre bonitas lições de vida?

Se formos ver, boa parte dos filmes pode apresentar isso como lição: Casablanca, Annie Hall, Mad Max, Psicose e muitos outros.


Tá, mas por que estou falando essas porcarias todas mesmo?

Ah, só pra dizer que O Lutador (The Wrestler) (já em dvd) foge um pouco disso: é um filme que mostra como “o tempo supera tudo, inclusive o amor”. Seja pela atuação grandiosa do Mickey Rourke, seja pela delicinha da Marisa Tomei (quanto mais velha melhor), vale muito a pena ver. Eu vi no cinema, e é o tipo de filme que vai perder um pouco a força vendo no monitor da TV (no do computador, então, nem se fala). O cartaz do filme é EXCELENTE também.



Infelizmente não me fez chorar, mas é um puta filme.



Frase do filme: Os anos 90 forma uma merda. Kurt Cobain acabou com toda a diversão.

domingo, 28 de junho de 2009

Guia do Brasileiro em Paris


Você já deve ter lido muitos livros de viagem (tá, bom, eu sei, não leu, mas deixa eu começar o texto assim, ok?), mas nenhum como este Guia do Brasileiro em Paris, de Mariléa de Castro (Artes e Ofícios Editora, 2008). Ao contrário de outros, este é inovador, diferente, gostoso e informativo.

Inovador
O livro de Mariléa é inovador pois não se limita a dar dicas de lugares para visitar. A autora realmente ama a cidade francesa e escreve para todos aqueles que desejam (ou já desejaram) muito conhecer Paris mas que, como ela, não têm tanta grana assim. Na verdade o livro bem poderia se chamar Guia do Brasileiro Pelado em Paris. Não é exagero, Brasileiro Pelado é uma figura criada pela própria autora para se referir aos que só podem ir pra Europa contando suas moedinhas depois de quebrar o porquinho (ou seja, quase todos nós). Não por acaso, o subtítulo é: Para aproveitar o máximo e gastar o mínimo.


Diferente
O Guia já começa de uma maneira inusitada. A autora instiga o leitor a se mexer, mostrando que, se ele não foi a Paris ainda, é somente porque ficou inventando desculpas esfarrapadas até agora. A introdução é pura motivação. Até quem nunca pensou em colocar os pés em Paris, como eu, fica tentado a conhecer a capital francesa. O tom que impera no resto do livro é de um bate-papo com o leitor, sem jamais descuidar da informação precisa.


Gostoso
A descrição de cada lugar não é meramente informativa, cada itinerário do Guia é um verdadeiro passeio pela cidade. Mariléa é realista e nos mostra que problemas, dificuldades e contratempos fazem parte de qualquer viagem, mas, no caso de Paris, os obstáculos apenas acrescentam um sabor de aventura ao roteiro. Ela conta suas roubadas e dá conselhos baseados nas suas boas e não tão boas experiências (lembre-se: tudo é aventura).




Informativo
Escrito de forma bastante pessoal, o Guia pode ser quase considerado um diário de viagem. Mesmo assim, informação precisa não falta no livro: desde a documentação que você tem que providenciar ao tomar a decisão de viajar (o que certamente deve ocorrer ao longo da leitura) até o momento da volta, passando por hospedagem, alimentação e (principalmente!) ga$to$, tudo está detalhada no Guia, com telefones, endereços, mapa das linhas de metrô e o que mais for preciso para o sucesso da sua viagem (até mesmo dicas sobre como arrumar a mala).

Nas palavras da autora:
Nos guias de viagens, quem é que nos conta a VERDADE mesmo – aquelas insidiosas, reles e constrangedoras miudezas que fazem a vida funcionar e a pessoa sobreviver no estrangeiro e cujo desconhecimento é que, em última análise, cria o vago bloqueio nosso de aventurar-nos pelo desconhecido?
As pessoas deixam de viajar não por medo de ficarem sem dinheiro na Europa ou se afogarem no mar Egeu ou, ainda, terem pneumonia no inverno. É pelo receio de não saberem como é que se chega, como funcionam as coisas, como é que se pede informações, como se faz para telefonar, quanto custa um café com leite ou um rolo de papel higiênico. Em sumo, se eu vou sobreviver sem fazer papel ridículo ou me sentir perdido.


Mais um trechinho, agora de um capítulo sobre alimentação:
Espírito de uma terra onde o comer não é pecado nem é feio, onde o barroco nunca deitou raízes, com seus dilemas cruciantes (Uma tarte-aux-pommes ou o meu regime?), e a Inquisição não teve as tintas mórbidas da Península Ibérica. A herança vital dos gregos e romanos resistiu sob o asceticismo e os esquálidos modelos medievais. (Está certo, os santos das fachadas góticas são magérrimos. Já os gárgulas...)


Lá pelas tantas, a própria autora reconhece o valor do livro, ao dizer, num capítulo sobre as opções de transporte: Quase tenho remorsos de fazê-lo chegar tão informadinho a Paris, roubando-lhe o friozinho no estômago.

O que já disseram:

Djegovsky:
É mais que um guia, é um companheiro de viagem.


Contras: os diversos erros de revisão que não precisavam estar lá.


4 estrelinhas


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sinédoque, Nova York



É o primeiro filme dirigido por Charlie Kaufmann, roteirista dos geniais Quero ser John Malkovich, Adaptação e Brilho Eterno de uma mente sem lembranças. O que esperar deste Sinédoque? Quem já viu seus outros trabalhos sabe que brincadeiras de metalinguagem e humor nonsense são comuns nos seus roteiros, e este não foge à regra. Mas o que antes parecia ter funcionado tão bem, agora decepciona.

No filme temos Caden Cotard, um diretor de teatro desesperado com sua mortalidade interpretado pelo sempre nojento (embora eterno queridinho da crítica) Phillip Seymour-Hoffman. O filme até começa bem, com diálogos ótimos, principalmente os entre sua mulher e sua filha. Até que Cotard ganha uma verba enorme para encenar uma nova peça, que decide ser sobre sua própria vida. A partir daí o espectador começa a se perder. Nos outros roteiros de Kaufmann, o espectador se segura em uma corda para conseguir ir até o final são e salvo. Em Sinédoque, a tal corda é um fino barbante que logo se parte, e deixa o espectador confuso, perdido e, principalmente, entediado. Às vezes ele pode achar que recuperou o fio condutor, mas logo se vê no escuro de novo.

O problema todo é a linguagem se Sinédoque fosse um texto seria um texto sem qualquer pontuação que pudesse orientar o leitor para piorar as coisas também seria um texto com uma sintaxe confusa com cada vez menos conectores entre palavras frases sem coesão coerência sem um fio condutor as repetições poderiam dar uma luz mas a insistência em ser pouco convencional não traz nada novo essa insistência em voltar ao elemento anterior que na verdade é posterior sem qualquer linearidade possível um texto com tempos verbais que não faziam sentido deixa-se de aproveitar tudo que poderia haver de interessante no filme para se ater ao que poderia haver de interessante no filme cada vez menos elementos precisos a maquiagem é boa a fotografia também a montagem não tem culpa a culpa é do roteiro mesmo mas Kaufmann é um grande roteirista jamais se perderia quem se perde é o espectador isso mesmo é posto em dúvida a confusão é proposital não é às vezes a convencionalidade faz falta que faz a convencionalidade seria um texto longo demais ninguém gostará de ler até o final afinal tem mais de duas horas e o resultado é assim o final tenta a redenção do homem e do filme do roteirista de todos mas era tarde demais.


Pois é, não entendi lhufas do filme.
Mas eu sou eu.


Nota final: 3,5

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cinema é uma droga

Sim, me ocorreu isso outro dia.

Cinema é como uma droga no sentido de que nos faz bem, traz um sentimento novo e inusitado, bastante prazeroso, que nos faz pedir por mais. Com o tempo, contudo, precisamos de doses maiores para alcançar o mesmo nível de prazer de outros tempos. Assim, quanto mais filmes assistimos, menos impacto eles têm.

Lembro da primeira sessão de cinema da minha vida. Foi no Cine Center, do Centro Comercial (hoje Shopping) João Pessoa. Não era bem um filme, mas uma compilação de desenhos animados curtos da Disney. À época já tinha visto Mickey, Minnie, Pateta, etc, na tevê. Mas naquela sala escura e cheia dum silêncio esquisito não era a mesma coisa. Tinha cinco anos de idade e fiquei embasbacado com aquela tela enorme e aquele som alto. Aquilo me afetou de modo que nunca mais pude ver TV da mesma maneira.

Os anos passaram e vi outros filmes que me embasbacaram, chacoalharam, desnortearam, atropelaram. O problema é que, depois de uma milha de filmes, comecei a querer mais, como uma droga que tinha seu efeito amenizado com o uso frequente. É uma decepção não se emocionar mais com os filmes e prestar mais atenção na fotografia, por exemplo.

Talvez um tempo de abstinência me faça bem.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Ensaio sobre a Gagueira

Os carros parados esperam a mudança de luz do semáforo. Quando passa da luz vermelha para a verde, os carros avançam. Menos um. Motoristas buzinam impacientes, alguns descem dos carros e batem no vidro do veículo imóvel. O motorista, em desespero, não para de falar algo inaudível para os que estão do lado de fora. Quando finalmente abrem a porta, ouvem com espanto o que ele diz: E-e-es-t-t-tou g-g-g-g-ga-ga-ga-go!

Assim começa o premiado romance do escritor lusitano José Saramago. Trata-se de uma história cheia de simbolismo que nos faz lembrar da “responsabilidade de ter uma boa dicção quando os outros a perderam”. Em uma atmosfera opressora e sombria, Saramago nos leva em uma viagem onde a condição humana testa seus limites. Empurrados para situações extremas, os personagens ficam reduzidos à essência humana, revelando seu lado mais primitivo. Saramago, ao lado de visionários modernos como Kafka, Orwell e Sidney Sheldon, mostra uma sociedade em que o controle sobre o indivíduo é levado às últimas conseqüências. Em Ensaio sobre a gagueira a ação é descrita com tal realismo e crueza que o leitor se vê logo enredado nas trevas da psique humana em seu lado mais obscuro. Segundo o narrador, “Só num mundo de gagos as coisas serão o que realmente são”.

* Em breve será lançada a adaptação hollywoodiana do livro; e logo depois, a caneca.

The Dream is Over

E se de repente alguém descobrisse que David Lynch é uma farsa, que todos os seus filmes não têm um sentido oculto profundo nem uma estética de valor e que todos os discursos que associam sua pessoa à palavra gênio não passam de retórica para mascarar pretensão intelectual pop?

O Poeta e as Cotas

O poeta costumava se valer de rimas ricas ou de versos brancos. Mas o governo, na sua sanha por políticas de ações afirmativas, o obrigou a fazer mudanças.
Agora o poeta está triste, ele deve dar:
- 35% de vagas sociais para as rimas pobres
- 25% de vagas de deficientes para os versos de pé quebrado.
- 20% de vagas raciais versos de outras etnias (provençal, alexandrino, hai-kai), além dos brancos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Nunca te li, sempre te amei

Uma pesquisa britânica mostrou que 65% das pessoas mentem sobre os livros que leram. Ou melhor que não leram. Explico: as pessoas dizem que leram certo livro - seja para impressionar, não passar vergonha, etc - mas nunca chegaram a abri-lo. Lá na Inglaterra, o resultado foi esse:


Livro mais mentido: 1984, de George Orwell.Segundo lugar: Guerra e Paz, de Tolstoi.

Terceiro: Ulisses, de James Joyce.Quarto: A Bíblia.


É estranho que o livro mais mentido seja, na verdade, um livro bem mais fácil que os outros. Eu li 1984 quando tinha uns 14-15 anos. Dos outros, não li nada, são muito grossos e cheios de palavras complicadas em letras pequeninhas.


Fiquei imaginando qual seria o resultado da pesquisa aqui no Brasil. Sobre que livros as pessoas mentiriam?


Poderia, também, ter um outro tipo de pesquisa: que livros as pessoas leem mas não admitem que leem. Meu palpite é que daria Paulo Coelho disparado.

Crie seu próprio livro de Dan Brown



Site em espanhol que vai ajudá-lo no seu caminho em busca da fama e da fortuna!


Sim, ali você pode criar seu próprio livro ao estilo Dan Brown, o ultra best-seller autor do Código Da20.


Você escolhe o nome do protagonistaa e cidade onde se passa a trama e o programinha em espanhol gera um enredo de aventura e conspiração tão ruins quanto os do escritor bagaça americano.


Um exemplo abaixo:


El Gorro de la Hoguera,
de Dan Brown


David Jones, un pesadísimo troller de los foros del Partido Republicano, es asesinado en el hall de su museo favorito en Capão Redondo y Djegovsky Lopstein, científico, acude a la policía de Buenos Aires para ayudar como experto. Djegovsky forma equipo con Steve McDormand, un gran novelista, con el fin de resolver el asesinato y desenredar el misterioso secreto del porcentaje exacto de algodón que lleva la capa de Harry Potter, mediante una desesperada persecución ambientada en el Mediterráneo, y un imprevisible arreglo de cuentas contra los miembros de El Pelotón de los Traidores, en medio de una gran tensión acumulada, puesto que lo poco que queda de dignidad en el mundo está en juego.

Mais outro (não resisti):

Anillos y Ruidos,
de Dan Brown

En las plataneras del Amazonas se oculta el más fascinante descubrimiento de la historia... pero revelar toda la verdad exige un precio demasiado alto. La doctora Assel Jones y el reportero Djegovsky Lopstein forman parte del equipo enviado por la Casa Blanca a un remoto lugar del Polo Sur, con la misión de autentificar el fabuloso hallazgo de la NASA. Un descubrimiento que cambiará el curso de la historia y, de paso, asegurará al presidente su reelección: el secreto de la tribu perdida de Tarzán. Sin embargo, una vez allí, aislados en el entorno más hostil del planeta y perseguidos por El Clan de los Caballeros Templarios, que son unos implacables asesinos equipados con los últimos adelantos tecnológicos, lucharán por salvar la vida y averiguar la verdad. Mientras tanto, en los despachos de Juazeiro do Ubiqüera se libra otra oscura batalla, puesto que el precio del petróleo peligra claramente, en un juego de traiciones y mentiras donde nadie es lo que parece.

Experimente você também!
Em breve você terá seu nome no topo da lista dos bestsellers.


Advertência!
Se você se transformar no Dan Brown, vai ficar assim:


Apedeutas!


E não é que o Intelectual do Ano sentiu a pressão de administrar um blogue, não aguentou o tirão, e pulou fora do barco? Sim, estou falando da Grande Polêmica Intelectual envolvendo o escritor, professor, doutor, colunista, entertainer de saraus e agora ex-blogueiro Luís Augusto Fischer.


Uns tempos atrás ele fez este post que repercutiu de maneira inesperada, e depois surtou. Fez um post de despedida descendo a lenha nos internautas indisciplinados, abandonando de vez o blogue. O seu xingamento preferido é que chama a atenção: pré-freudianos. Puxa, o Professor descobriu Freud já faz dez anos e ainda não consegue deixar de se deslumbrar.


Ainda bem que ele não usou um xingamento muito pior, mais agressivo, pesado e radical, que ele gosta de usar em sala de aula: apedeuta. Eita! Isso sim é que é xingamento de Intelectual.


Poxa, Mestre, outros luminares da literatura sulina – como David Coimbra e Martha Medeiros – também foram regularmente incompreendidos e espinafrados em praça púbica e seguiram em frente com seus respectivos blogues. Vamos lá, não desista!

Fantasy Island meets Scarface




Say hello to my little friend!!

Show do Zé do Bêlo



Numa quarta-feira chuvosa, aconteceu em Porto Alegre um evento para poucos privilegiados: um show do Zé do Bêlo. Depois de deixar a ansiosa platéia esperando um bom tempo, como é próprio das grandes estrelas do show business, sobe ao palco do Garagem Hermética o Artista. Trajando seu característico terno branco, combinado com camisa azul, gravata preta e sandálias, , acompanhado de sua competentíssima banda (Alemão da Vila, em seu uniforme esportivo tamanho pequeno na batera; Veri D'ávila, com fingido ar blasé, no baixo; e o legendário King Jim no sax), abriu com Bolero da Morena, ainda inédita em CD. Depois foram só sucessos, entre músicas novas e as confirmadas do CD Acústico. Em O Gil Gomes Falou, Meu Deus, Uma Luz, Samba-Enredo, Bolinhas e outras, pode mostrar todo seu carisma e domínio de palco.




O Mestre ainda mostrou que entende de todos os aspectos de um show, ao orientar o iluminador diversas vezes sobre como deveria desempenhar seu trabalho ("Ô boca aberta, eu já falei pra botá só luz vermelha agora"). Lembrando Tim Maia, reclama diversas vezes do retorno da guitarra. Zé do Bêlo, como uma versão brasileira de um Tony Clifton do século 21, não se deixa intimidar por pedidos da platéia. Diante de insistentes apelos para que tocasse o mega sucesso internacional "Reprise" , reagiu: "Tu não apita nada aqui, magrão. Quem manda no show sou eu". Só mais tarde, provando que tem personalidade, é que tocou a comovente "Reprise", sendo, é claro, ovacionado do primeiro acorde ao último. Enfim, como disse o próprio , no final de uma das canções: "O cara tem a manha da composição".

Thank God It's Friday

A Suprema Corte da Itália proibiu que um casal de italianos batizasse o filho com o nome de Venerdì, que significa 'sexta-feira' em italiano. A Alta Corte do país tomou a decisão com base em uma lei italiana que proíbe os pais de dar nomes considerados "ridículos ou constrangedores". O casal argumentou que, assim como muitas celebridades, que costumam dar nomes esdrúxulos aos seus filhos, eles também deveriam ter o direito de escolher livremente.

A Suprema Corte decidiu que 'Venerdì' poderia expor o menino a situações ridículas. Além disso, os juízes acreditam que o nome remete ao personagem do romance clássico Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, caracterizado por "sua subserviência e inferioridade". Eles também obrigaram os pais a rebatizar a criança de Gregório, nome do santo homenageado no aniversário da criança."Nós vamos continuar a chamá-lo de Venerdì", disse a mãe da criança ao jornal italiano “Corriere della Sera”. Os pais estudam até a possibilidade de chamar o próximo filho de Mercoledì ('quarta-feira' em italiano).

Amor Fatal

Outro dia um amigo foi ao cinema ver o filme Fatal e saiu doentiamente apaixonado pela Penélope Cruz. Bom, na verdade não foi pela Penélope Cruz mesmo, mas pela personagem dela no filme. Uma amiga, por sua vez, viu um filme qualquer com o Robert Downey Jr.


E também saiu apaixonada.


É uma espécie de amor platônico de alto nível, extremamente seguro em termos sexuais (pois inexiste a possibilidade de o ato se consumar) e ao mesmo tempo desesperador (pois inexiste a possibilidade de o ato se consumar). É um estado que os psiquiatras maldosamente diagnosticam como risco de distorção da realidade.


Mas, para ser honesto, fiquei com muita inveja deles, afinal já senti isso também. A última vez já faz muito tempo, foi quando assisti O Diabo na Carne de Miss Jones.

O Horroroso Caso de Benjamin Button



Vou falar um pouquinho sobre os filmes que ando vendo por aí. Comecemos com este O Curioso Caso de Benjamin Button. A motivação para falar desse filme foi a coluna de Ruth de Aquino, publicada na Época há algumas semanas. Essa mulher simplesmente AMOU o filme. E disse coisas sobre ele...coisas que simplesmente não são verdade, para mim. E eu quero reparar essa injustiça.




Ela já começa dizendo que Benjamin Button é um filme implacável de David Fincher. Não poderia estar mais equivocada. Quando associamos um filme ao nome do diretor é porque ele, o diretor, tem um estilo próprio, reconhecível, características suas, como Woody Allen, Almodóvar ou Steven Spielberg. Com essa frase, ela já mostra que não conhece a obra de Fincher, pois Benjamin Button é o filme mais atípico de David Fincher. Depois do estiloso Seven (copiado até enjoar), do excelente Clube da Luta, ele ainda fez os interessantes Vidas em Jogo e O Quarto do Pânico. E eis que de repente aparece com esse insosso Benjamin Button. Por quê? Ora, porque ele pensou que já era hora de ele ganhar um Oscar. Assim, fez um filme com todos os ingredientes: atores talentosos e respeitados + adaptação de um clássico da literatura + excelência técnica + uma história que mostra que “o amor supera tudo, até mesmo o tempo”. Só que ele não se deu conta de que essa fórmula básica já estava um pouco ultrapassada e não é mais garantia de sucesso. Vejo raríssimos traços de David Fincher no filme.




Ruth de Aquino fala do casal de atores. Brad Pitt, segundo ela, está numa “atuação impecável”. Pelamordedeuz! Acho que talvez seja a pior atuação da história de Brad Pitt. E não digo isso por preconceito com atores-bonitões. Na verdade considero Pitt o ator-bonitão mais talentoso e versátil que há por aí (ao contrário do cada vez mais canastrão Tom Cruise). O problema é que ele simplesmente fica com cara de bunda o tempo todo no filme, quando interpreta uma criança, um adolescente, um velho, sempre a mesma cara de bunda. Se era pra fazer cara de bunda, por que não chamaram logo Tom Hanks, o maior especialista nesse tipo de papel? Depois Aquino fala de Cate Blanchet, “mais bela que jamais”. Puxa, bela é um adjetivo muito forte para uma mulher que não é bonita nem feia, não fede e nem cheira, e não acrescenta nada a qualquer obra de que participe além de uma irresistível sonolência.




Ruthinha ficou encantada mesmo foi com as inúmeras lições de vida com as quais o filme nos presenteia: “Somos predestinados a perder as pessoas que amamos. De que outra maneira saberíamos que são importantes para nós?” “Nossas vidas são definidas pelas oportunidades, mesmo aquelas que perdemos.” Esta frase fantástica levou Ruth de Aquino às lágrimas: “Nunca se sabe o que nos espera”. Uau! Se abrirmos ao acaso um livro do Lair Ribeiro ou do Roberto Shiniashiki certamente leremos coisas mais profundas e inteligentes. Ruth, num insight magnífico, conclui: Tudo é passageiro e do fim não se escapa.




Li a crítica dela somente depois de ter visto o filme. É uma pena, pois se tivesse lido antes teria notado a tempo que Benjamin Button é o tipo de filme que cativa as pessoas bregas e sentimentaloides. O Curioso Caso é insuportavelmente chato e longo. Se ainda quiser ir ver, leve um travesseiro.
Um dia Brad Pitt vai ficar assim