quarta-feira, 27 de abril de 2011

Capas Bregas

Se tem uma coisa que eu gosto mais do que belas capas de livros são péssimas capas de livros. Fico horas nas gôndolas da Livraria Cultura apreciando as capas mais toscas, que muitas vezes nem levam crédito. Mas quem elevou as capas bregas ao status de arte foi a editora responsável pela série Momentos Íntimos.

Abaixo, algumas das capas da série:












Se você gostou das capas e dos títulos, espere então para ver as sinopses desses livros, que posterei numa outra oportunidade.

domingo, 17 de abril de 2011

Factótum - Charles Bukowski

Há tempos quis fazer o ranking dos autores que mais li (seria fácil pois tenho todos os meus livros lidos anotados por ano de leitura), mas deixei a tarefa de lado por algum motivo desconhecido, mas provavelmente aqueles que estariam no Top 5 seriam (não necessariamente nessa ordem) Haruki Murakami, Erico Verissimo, Rubem Fonseca, Italo Calvino e Charles Bukowski. Esse último foi o que li primeiro deles, na adolescência. mesmo lendo (e relendo) seus livros até hoje,ainda o tenho como um escritor para adolescentes.

Abaixo, dois trechos do livro Factótum (L&PM, 2007, tradução de Pedro Gonzaga), que, como outros dele, é supostamente baseado nas suas experiências de vida.


Cap. 31
Quando voltei para Los Angeles, encontrei um hotel barato nas imediações da Hoover Street e fiquei na cama e bebi. Bebi por algum tempo, três ou quatro dias. Não conseguia achar disposição para ler os classificados. A ideia de me sentar diante de um homem e sua mesa e lhe dizer que eu queria um trabalho, que eu tinha as qualificações necessárias, era demais para mim. Francamente, eu estava horrorizado diante da vida, o que um homem precisava fazer para comer, dormir, manter-se vestido. Então fiquei na cama enchendo a cara. Quando você bebia, o mundo continuava lá fora, mas por um momento era como se ele não o trouxesse preso pela garganta.

...
Cap. 65
Nada pior do que terminar uma boa cagada, esticar a mão e encontrar um rolo de papel higiênico vazio. Mesmo o ser humano mais monstruoso sobre a face da terra merece um papel higiênico para limpar o rabo. Algumas vezes, ao esticar a mão e não encontrar papel, eu ia em busca de um protetor para quebrar um galho, mas, subitamente, descobria o reservatório também vazio. Então você se põe de pé e vê que o que estava usando acaba de cair na água. Depois disso, sobram-lhe poucas alternativas. A que descobri mais satisfatória é limpar o rabo com as cuecas, jogá-las na privada, dar descarga e entupir o vaso.

domingo, 10 de abril de 2011

Partículas Elementares

O francês Michel Houllebecq já afirmou que não é um provocador. Segundo ele, um verdadeiro provocador é alguém que diz o que não pensa, apenas para chocar. "Eu tento dizer o que penso. E quando eu sinto que o que eu penso vai causar desagrado, eu corro para dizê-lo com verdadeiro entusiasmo. E no fundo, eu quero ser amado, apesar disso." De qualquer maneira, Michel Houllebecq é, sim, um provocador. MH deve ser o tipo de aluno que apanhava dos mais fortes na escola, aquele de quem roubavam o lanche, que as meninas não davam bola e que até os professores debochavam. Como ele era ligeiramente mais inteligente que os outros, cresceu achando que seu triste passado infantil fosse fase obrigatória da inevitável sina dos gênios incompreendidos e livre-pensadores. Mas estava enganado, ele apanhava apenas porque era um grande mala mesmo. 


Prova disso é seu livro Partículas Elementares (Sulina, 1999), que conquistou malas ao redor do mundo, como Juremir Machado da Silva, seu tradutor no Brasil. (tradução esquisita, por sinal, recheada de coisas estranhas, e gigantescamente cheia de erros de revisão). Houllebecq escreveu um livro pretensioso. Quis fazer a crítica a uma geração, mas tarde demais, pois a tal geração já havia passado; se acha crítico e sagaz, mas é apenas bobo; quis emocionar e levar o leitor às lágrimas no final do livro (e ele mesmo afirmou isso em entrevista, onde ainda acrescentou: "É a qualidade que mais admiro na literatura: a capacidade de fazer chorar. Há dois elogios que aprecio: "Eu li em uma noite." e "Me fez chorar"), mas apenas escreveu uma dramalhão mexicano forçado à moda SBT. 


Houllebecq é um cara fodão. Ele gosta de posar para fotos sempre fumando um cigarro, para deixar claro que sua inexorável rebeldia não se dobra aos nossos tempos politicamente corretos. Mas desconfio que ele não traga.


Enfim, o livro não de todo tão ruim, só que é difícil levá-lo a sério, como o autor gostaria. Até tem alguns trechos divertidos, como esses abaixo:


(...) Começava a encher o saco dessa estúpida mania pró-Brasil. Por que o Brasil? Conforme tudo o que sabia, o Brasil era um país de merda, povoado de brutos fanáticos por futebol e por corridas de automóvel. A violência, a corrupção e a miséria estavam no apogeu. Se havia um país detestável, era justamente, e especificamente, o Brasil.

“Sophie”, exclamou Bruno com força. “Eu poderia ir ao Brasil, em férias. Passearia nas favelas, num microônibus blindado; observaria os pequenos assassinos de oito anos; não sentiria medo, protegido pela blindagem; à tarde, iria à praia, entre riquíssimos traficantes de droga e de proxenetas; no meio dessa vida desenfreada, dessa urgência, esqueceria a melancolia do homem ocidental; tens razão. Sophie: ao voltar, pegarei informações numa agência Nouvelles Frontières”.

“Não sirvo para nada”, disse Bruno, com resignação. “Sou incapaz de criar porcos. Não tenho a menor noção de como se produzem salsichas, garfos ou telefones celulares. Sou incapaz de produzir qualquer um dos objetos que me cercam, que utilizo ou devoro. Não sou nem mesmo capaz de compreender os seus processos de produção. Se a indústria parasse, se os engenheiros e técnicos especializados desaparecessem, eu seria incapaz do menor recomeço. Fora do complexo econômico-industrial, não conseguiria nem sequer sobreviver; não saberia como me alimentar, vestir, proteger-me das intempéries; as minhas competências técnicas pessoais são amplamente inferiores às do homem de Neandertal. Totalmente dependente da sociedade que me cerca, sou quase inútil. Tudo que sei fazer é produzir comentários duvidosos sobre objetos culturais ultrapassados. Recebo, porém, um salário, amplamente superior à média. A maioria das pessoas em torno de mim está na mesma situação. No fundo, meu irmão é a única pessoa útil que eu conheço.
  - Que fez ele de tão extraordinário?
Bruno refletiu. Virou, no prato, o pedaço de queijo, em busca de uma resposta de impacto.
  - Criou novas vacas.


Eu peguei o livro na biblioteca da faculdade, e ele estava cheio de anotações a lápis nas margens, o que tornou a leitura mais divertida. Abaixo coloco alguns trechos com as respectivas anotações desse leitor anônimo, que desconfio que não seja um homem. Esclareço que os comentários anotados não refletem a minha opinião.


Passados 30 anos, mais uma vez só podia chegar à mesma conclusão: decididamente as mulheres eram melhores do que os homens: mais carinhosas, mais amantes, mais compreensivas e mais doces; menos inclinadas à violência, ao egoísmo, à auto-afirmação, à crueldade. Além disso, mais razoáveis, mais inteligentes e mais trabalhadoras.


Anotação: 
(só rindo! Coitado..)
ATÉ PARECE!
Se são da mesma espécie, não podem ser diferentes!


(...) Um mundo composto por mulheres seria, sob todos os pontos de vista, infinitamente superior; evoluiria mais lentamente, mas com regularidade, sem retrocessos e reviravoltas nefastas, rumo a um estado de felicidade comum.

Anotação:
se destruiria mais rápido, com certeza. As mulheres são ditatoriais por natureza. E cínicas.


(...) O pré-adolescente é um monstro duplicado em imbecil, de um conformismo quase inacreditável; parece a cristalização súbita, maléfica (e imprevisível, considerando-se a criança) do que há de pior no homem.


Anotação:
 há! Há! Há! Sábias palavras


(...) Quando soube que esperava um menino, sofri um choque terrível. Não podia ser pior. Eu deveria estar feliz, mas, aos 28 anos, já me sentia morto.”

Anotação:
 (eu também)


(...) Ao descer do trem, depois ao atravessar a cidade, fiquei, mais do que tudo, surpreso com a pequenez e feiura desta – sem absolutamente nada que interessasse.”

Anotação
(Viamão)


Ela tinha vivido, cheirado coca, participado de surubas, dormido em hotéis de luxo.

Anotação
e ainda era entediada!