terça-feira, 26 de maio de 2009

Ensaio sobre a Gagueira

Os carros parados esperam a mudança de luz do semáforo. Quando passa da luz vermelha para a verde, os carros avançam. Menos um. Motoristas buzinam impacientes, alguns descem dos carros e batem no vidro do veículo imóvel. O motorista, em desespero, não para de falar algo inaudível para os que estão do lado de fora. Quando finalmente abrem a porta, ouvem com espanto o que ele diz: E-e-es-t-t-tou g-g-g-g-ga-ga-ga-go!

Assim começa o premiado romance do escritor lusitano José Saramago. Trata-se de uma história cheia de simbolismo que nos faz lembrar da “responsabilidade de ter uma boa dicção quando os outros a perderam”. Em uma atmosfera opressora e sombria, Saramago nos leva em uma viagem onde a condição humana testa seus limites. Empurrados para situações extremas, os personagens ficam reduzidos à essência humana, revelando seu lado mais primitivo. Saramago, ao lado de visionários modernos como Kafka, Orwell e Sidney Sheldon, mostra uma sociedade em que o controle sobre o indivíduo é levado às últimas conseqüências. Em Ensaio sobre a gagueira a ação é descrita com tal realismo e crueza que o leitor se vê logo enredado nas trevas da psique humana em seu lado mais obscuro. Segundo o narrador, “Só num mundo de gagos as coisas serão o que realmente são”.

* Em breve será lançada a adaptação hollywoodiana do livro; e logo depois, a caneca.

The Dream is Over

E se de repente alguém descobrisse que David Lynch é uma farsa, que todos os seus filmes não têm um sentido oculto profundo nem uma estética de valor e que todos os discursos que associam sua pessoa à palavra gênio não passam de retórica para mascarar pretensão intelectual pop?

O Poeta e as Cotas

O poeta costumava se valer de rimas ricas ou de versos brancos. Mas o governo, na sua sanha por políticas de ações afirmativas, o obrigou a fazer mudanças.
Agora o poeta está triste, ele deve dar:
- 35% de vagas sociais para as rimas pobres
- 25% de vagas de deficientes para os versos de pé quebrado.
- 20% de vagas raciais versos de outras etnias (provençal, alexandrino, hai-kai), além dos brancos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Nunca te li, sempre te amei

Uma pesquisa britânica mostrou que 65% das pessoas mentem sobre os livros que leram. Ou melhor que não leram. Explico: as pessoas dizem que leram certo livro - seja para impressionar, não passar vergonha, etc - mas nunca chegaram a abri-lo. Lá na Inglaterra, o resultado foi esse:


Livro mais mentido: 1984, de George Orwell.Segundo lugar: Guerra e Paz, de Tolstoi.

Terceiro: Ulisses, de James Joyce.Quarto: A Bíblia.


É estranho que o livro mais mentido seja, na verdade, um livro bem mais fácil que os outros. Eu li 1984 quando tinha uns 14-15 anos. Dos outros, não li nada, são muito grossos e cheios de palavras complicadas em letras pequeninhas.


Fiquei imaginando qual seria o resultado da pesquisa aqui no Brasil. Sobre que livros as pessoas mentiriam?


Poderia, também, ter um outro tipo de pesquisa: que livros as pessoas leem mas não admitem que leem. Meu palpite é que daria Paulo Coelho disparado.

Crie seu próprio livro de Dan Brown



Site em espanhol que vai ajudá-lo no seu caminho em busca da fama e da fortuna!


Sim, ali você pode criar seu próprio livro ao estilo Dan Brown, o ultra best-seller autor do Código Da20.


Você escolhe o nome do protagonistaa e cidade onde se passa a trama e o programinha em espanhol gera um enredo de aventura e conspiração tão ruins quanto os do escritor bagaça americano.


Um exemplo abaixo:


El Gorro de la Hoguera,
de Dan Brown


David Jones, un pesadísimo troller de los foros del Partido Republicano, es asesinado en el hall de su museo favorito en Capão Redondo y Djegovsky Lopstein, científico, acude a la policía de Buenos Aires para ayudar como experto. Djegovsky forma equipo con Steve McDormand, un gran novelista, con el fin de resolver el asesinato y desenredar el misterioso secreto del porcentaje exacto de algodón que lleva la capa de Harry Potter, mediante una desesperada persecución ambientada en el Mediterráneo, y un imprevisible arreglo de cuentas contra los miembros de El Pelotón de los Traidores, en medio de una gran tensión acumulada, puesto que lo poco que queda de dignidad en el mundo está en juego.

Mais outro (não resisti):

Anillos y Ruidos,
de Dan Brown

En las plataneras del Amazonas se oculta el más fascinante descubrimiento de la historia... pero revelar toda la verdad exige un precio demasiado alto. La doctora Assel Jones y el reportero Djegovsky Lopstein forman parte del equipo enviado por la Casa Blanca a un remoto lugar del Polo Sur, con la misión de autentificar el fabuloso hallazgo de la NASA. Un descubrimiento que cambiará el curso de la historia y, de paso, asegurará al presidente su reelección: el secreto de la tribu perdida de Tarzán. Sin embargo, una vez allí, aislados en el entorno más hostil del planeta y perseguidos por El Clan de los Caballeros Templarios, que son unos implacables asesinos equipados con los últimos adelantos tecnológicos, lucharán por salvar la vida y averiguar la verdad. Mientras tanto, en los despachos de Juazeiro do Ubiqüera se libra otra oscura batalla, puesto que el precio del petróleo peligra claramente, en un juego de traiciones y mentiras donde nadie es lo que parece.

Experimente você também!
Em breve você terá seu nome no topo da lista dos bestsellers.


Advertência!
Se você se transformar no Dan Brown, vai ficar assim:


Apedeutas!


E não é que o Intelectual do Ano sentiu a pressão de administrar um blogue, não aguentou o tirão, e pulou fora do barco? Sim, estou falando da Grande Polêmica Intelectual envolvendo o escritor, professor, doutor, colunista, entertainer de saraus e agora ex-blogueiro Luís Augusto Fischer.


Uns tempos atrás ele fez este post que repercutiu de maneira inesperada, e depois surtou. Fez um post de despedida descendo a lenha nos internautas indisciplinados, abandonando de vez o blogue. O seu xingamento preferido é que chama a atenção: pré-freudianos. Puxa, o Professor descobriu Freud já faz dez anos e ainda não consegue deixar de se deslumbrar.


Ainda bem que ele não usou um xingamento muito pior, mais agressivo, pesado e radical, que ele gosta de usar em sala de aula: apedeuta. Eita! Isso sim é que é xingamento de Intelectual.


Poxa, Mestre, outros luminares da literatura sulina – como David Coimbra e Martha Medeiros – também foram regularmente incompreendidos e espinafrados em praça púbica e seguiram em frente com seus respectivos blogues. Vamos lá, não desista!

Fantasy Island meets Scarface




Say hello to my little friend!!

Show do Zé do Bêlo



Numa quarta-feira chuvosa, aconteceu em Porto Alegre um evento para poucos privilegiados: um show do Zé do Bêlo. Depois de deixar a ansiosa platéia esperando um bom tempo, como é próprio das grandes estrelas do show business, sobe ao palco do Garagem Hermética o Artista. Trajando seu característico terno branco, combinado com camisa azul, gravata preta e sandálias, , acompanhado de sua competentíssima banda (Alemão da Vila, em seu uniforme esportivo tamanho pequeno na batera; Veri D'ávila, com fingido ar blasé, no baixo; e o legendário King Jim no sax), abriu com Bolero da Morena, ainda inédita em CD. Depois foram só sucessos, entre músicas novas e as confirmadas do CD Acústico. Em O Gil Gomes Falou, Meu Deus, Uma Luz, Samba-Enredo, Bolinhas e outras, pode mostrar todo seu carisma e domínio de palco.




O Mestre ainda mostrou que entende de todos os aspectos de um show, ao orientar o iluminador diversas vezes sobre como deveria desempenhar seu trabalho ("Ô boca aberta, eu já falei pra botá só luz vermelha agora"). Lembrando Tim Maia, reclama diversas vezes do retorno da guitarra. Zé do Bêlo, como uma versão brasileira de um Tony Clifton do século 21, não se deixa intimidar por pedidos da platéia. Diante de insistentes apelos para que tocasse o mega sucesso internacional "Reprise" , reagiu: "Tu não apita nada aqui, magrão. Quem manda no show sou eu". Só mais tarde, provando que tem personalidade, é que tocou a comovente "Reprise", sendo, é claro, ovacionado do primeiro acorde ao último. Enfim, como disse o próprio , no final de uma das canções: "O cara tem a manha da composição".

Thank God It's Friday

A Suprema Corte da Itália proibiu que um casal de italianos batizasse o filho com o nome de Venerdì, que significa 'sexta-feira' em italiano. A Alta Corte do país tomou a decisão com base em uma lei italiana que proíbe os pais de dar nomes considerados "ridículos ou constrangedores". O casal argumentou que, assim como muitas celebridades, que costumam dar nomes esdrúxulos aos seus filhos, eles também deveriam ter o direito de escolher livremente.

A Suprema Corte decidiu que 'Venerdì' poderia expor o menino a situações ridículas. Além disso, os juízes acreditam que o nome remete ao personagem do romance clássico Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, caracterizado por "sua subserviência e inferioridade". Eles também obrigaram os pais a rebatizar a criança de Gregório, nome do santo homenageado no aniversário da criança."Nós vamos continuar a chamá-lo de Venerdì", disse a mãe da criança ao jornal italiano “Corriere della Sera”. Os pais estudam até a possibilidade de chamar o próximo filho de Mercoledì ('quarta-feira' em italiano).

Amor Fatal

Outro dia um amigo foi ao cinema ver o filme Fatal e saiu doentiamente apaixonado pela Penélope Cruz. Bom, na verdade não foi pela Penélope Cruz mesmo, mas pela personagem dela no filme. Uma amiga, por sua vez, viu um filme qualquer com o Robert Downey Jr.


E também saiu apaixonada.


É uma espécie de amor platônico de alto nível, extremamente seguro em termos sexuais (pois inexiste a possibilidade de o ato se consumar) e ao mesmo tempo desesperador (pois inexiste a possibilidade de o ato se consumar). É um estado que os psiquiatras maldosamente diagnosticam como risco de distorção da realidade.


Mas, para ser honesto, fiquei com muita inveja deles, afinal já senti isso também. A última vez já faz muito tempo, foi quando assisti O Diabo na Carne de Miss Jones.

O Horroroso Caso de Benjamin Button



Vou falar um pouquinho sobre os filmes que ando vendo por aí. Comecemos com este O Curioso Caso de Benjamin Button. A motivação para falar desse filme foi a coluna de Ruth de Aquino, publicada na Época há algumas semanas. Essa mulher simplesmente AMOU o filme. E disse coisas sobre ele...coisas que simplesmente não são verdade, para mim. E eu quero reparar essa injustiça.




Ela já começa dizendo que Benjamin Button é um filme implacável de David Fincher. Não poderia estar mais equivocada. Quando associamos um filme ao nome do diretor é porque ele, o diretor, tem um estilo próprio, reconhecível, características suas, como Woody Allen, Almodóvar ou Steven Spielberg. Com essa frase, ela já mostra que não conhece a obra de Fincher, pois Benjamin Button é o filme mais atípico de David Fincher. Depois do estiloso Seven (copiado até enjoar), do excelente Clube da Luta, ele ainda fez os interessantes Vidas em Jogo e O Quarto do Pânico. E eis que de repente aparece com esse insosso Benjamin Button. Por quê? Ora, porque ele pensou que já era hora de ele ganhar um Oscar. Assim, fez um filme com todos os ingredientes: atores talentosos e respeitados + adaptação de um clássico da literatura + excelência técnica + uma história que mostra que “o amor supera tudo, até mesmo o tempo”. Só que ele não se deu conta de que essa fórmula básica já estava um pouco ultrapassada e não é mais garantia de sucesso. Vejo raríssimos traços de David Fincher no filme.




Ruth de Aquino fala do casal de atores. Brad Pitt, segundo ela, está numa “atuação impecável”. Pelamordedeuz! Acho que talvez seja a pior atuação da história de Brad Pitt. E não digo isso por preconceito com atores-bonitões. Na verdade considero Pitt o ator-bonitão mais talentoso e versátil que há por aí (ao contrário do cada vez mais canastrão Tom Cruise). O problema é que ele simplesmente fica com cara de bunda o tempo todo no filme, quando interpreta uma criança, um adolescente, um velho, sempre a mesma cara de bunda. Se era pra fazer cara de bunda, por que não chamaram logo Tom Hanks, o maior especialista nesse tipo de papel? Depois Aquino fala de Cate Blanchet, “mais bela que jamais”. Puxa, bela é um adjetivo muito forte para uma mulher que não é bonita nem feia, não fede e nem cheira, e não acrescenta nada a qualquer obra de que participe além de uma irresistível sonolência.




Ruthinha ficou encantada mesmo foi com as inúmeras lições de vida com as quais o filme nos presenteia: “Somos predestinados a perder as pessoas que amamos. De que outra maneira saberíamos que são importantes para nós?” “Nossas vidas são definidas pelas oportunidades, mesmo aquelas que perdemos.” Esta frase fantástica levou Ruth de Aquino às lágrimas: “Nunca se sabe o que nos espera”. Uau! Se abrirmos ao acaso um livro do Lair Ribeiro ou do Roberto Shiniashiki certamente leremos coisas mais profundas e inteligentes. Ruth, num insight magnífico, conclui: Tudo é passageiro e do fim não se escapa.




Li a crítica dela somente depois de ter visto o filme. É uma pena, pois se tivesse lido antes teria notado a tempo que Benjamin Button é o tipo de filme que cativa as pessoas bregas e sentimentaloides. O Curioso Caso é insuportavelmente chato e longo. Se ainda quiser ir ver, leve um travesseiro.
Um dia Brad Pitt vai ficar assim