domingo, 27 de novembro de 2011

Pôsteres Polones Parte 2

Continuando a série.
Simplesmente ainda não consegui entender como é que os pôsteres poloneses não são mais famosos. Selecionei apenas os de filmes, mas há também de óperas, concertos e teatro, todos na mesma linha. O que torna os de filmes americanos especiais é justamente a contraposição a seus originais, que seguem fórmulas banais e repetitivas. Outro aspecto que chama a atenção é o pequeno apelo comercial desses cartazes, pois muitas vezes transformam um simples filme de aventura ou uma comédia familiar em algo soturno e enigmático.

Desta vez, coloco também os cartazes originais, e abaixo as versões de artistas poloneses.

Depois de horas



Alphaville



Christine - o carro assassino



Fanny e Alexander




Maratona da Morte


 O rapaz e o cão 


 O filho de Godzilla


 Atos de vingança


 Alien o oitavo passageiro


 Flap


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Frases de Filmes - Deu a Louca na Chapeuzinho

Há muito que os filmes infantis apresentam temas, piadas e referências que passam batidos para as crianças,por serem dirigidos ao público adulto. Um bom exemplo desses filmes é a animação Deu a Louca na Chapeuzinho, recheada de referências cinematográficas e de brincadeiras com clichês da linguagem narrativa. Pra começar, o filme toma emprestada a estrutura de Ram, de Akira Kurosawa, contando versões dos fatos a partir do ponto de vista de diferentes personagens. A própria capa do filme também remete à do Os Suspeitos. Enfim, apesar das inevitável humor slapstick das comédias infantis, o roteiro é bom e o filme vale a pena. Deixo aqui dois diálogos que anotei.


- Adoro meu trabalho! Viu como as coisas funcionam, Dolph? Você estabelece prioridades, metas, define seus objetivos. E você se pergunta: “Onde me vejo daqui a cinco anos?”
 - Que tal atrás das grades?



- Dolph, amarre a pirralha.
- Leza, segure o livro.
- Vincent, traga o caminhão.
- Keith, por favor, mude de nome. Não dá medo a ninguém e é constrangedor. “Boris”, experimente “Boris”. “Keith”, imagina: “Cuidado com o Keith!”.
- Você é louco
- Talvez.

sábado, 28 de maio de 2011

Publicidade intelectual

O que você pensaria se o seu músico de jazz favorito fizesse propaganda de meias? Ou se o dramaturgo que você mais respeita participasse de anúncios de colchões? Ou quem sabe seu diretor de cinema em comerciais de vodka? Pois é, há muitos anos vários ícones do mundo da arte já se venderam para o mundo do capitalismo selvagem. Podem até ter feito alguma grana na época, mas hoje ficou meio patético. Veja abaixo alguns exemplos:


Franco Zeffirelli
 Yehudi Menuhin
Ella Fitzgerald

 Benny Goodman
Ray Charles

 Sammy Davis Jr.

 Bernard Shaw

 Marcel Marceau
 Charlton Heston
Woody Allen



Ronald Reagan

terça-feira, 10 de maio de 2011

O filho eterno

Trechos do livro O filho eterno (Record, 2007), de Cristóvão Tezza.



Ele dormiu, ou quase dormiu, num sofá vermelho ao lado da cama alta de hospital, para onde trouxeram a mulher em algum momento da madrugada. A criança estaria no berçário, uma espécie de gaiola asséptica, que o fez lembrar do Admirável mundo novo: todos aqueles bebês um ao lado do outro, atrás de uma proteção de vidro, etiquetados e cadastrados para a entrada no mundo, todos idênticos, enfaixados na mesma roupa verde, todos mais ou menos feios, todos amassados, sustos respirantes, todos imóveis, de uma fragilidade absurda, todos tabula rasa, cada um deles apenas um breve potencial, agora para sempre condenados ao Brasil, e à língua portuguesa, que lhes emprestaria as palavras com as quais, algum dia, eles tentariam dizer quem eram, afinal, e para que estavam aqui, se é que uma pergunta pode fazer sentido.


Era como se já tivesse acontecido – largou as mãos da mulher e saiu abrupto do quarto, numa euforia estúpida e intensa, que lhe varreu a alma. Era preciso sorver essa verdade, esse fato científico, profundamente: sim, as crianças com síndrome de Down morrem cedo. (...) E há mais, entusiasmou-se: quase todas têm problemas graves de coração, malformações de origem que lhes dão uma expectativa de vida muito curta. Extremamente curta, ele reforçou, como quem dá uma aula, o balançar compreensivo de cabeça – é triste, mas é real.E há milhares de outros pequenos defeitos de fabricação. Ele acendeu um cigarro, e parecia que a vida inteira voltava ao normal ao sentir aquela tragada maravilhosa, intensa, perfumada: veja, ele se dizia, não há velhos mongoloides. Você tem certeza disso?, alguém perguntaria, erguendo o braço; sim, nenhuma dúvida; eles morrem logo, e ele desejou passear por uma rua movimentada às seis da tarde só para conferir in loco, cabeça a cabeça, essa verdade indiscutível: eles não existem. Veja você mesmo, procure na multidão: não existem. Uma enfermeira lhe perguntou alguma coisa, ele diz que não, que vai sair, não querendo pensar muito na sua descoberta para não estragá-la, para melhor usufruir a liberdade que, súbita, estava diante dele, talvez – ele calculou – seja só uma questão de dias, dependendo da gravidade da síndrome.


A primeira criança de um casamento é uma aporrinhação monumental – o intruso exige espaço e atenção, chora demais, não tem horário nem limites, praticamente nenhuma linguagem comum, não controla nada em seu corpo, que vive a borbulhar por conta própria, depende de uma quantidade enorme de objetos (do berço à mamadeira, do funil de plástico às fraldas, milhares delas) até então desconhecidos pelos pais, drena as economias, o tempo,a paciência, a tolerância, sofre males inexplicáveis e intraduzíveis, instaura em torno de si o terror da fragilidade e da ignorância, e afasta, quase que aos pontapés, o pai da mãe. E é uma criança – como todo recém-nascido – feia. É difícil imaginar que daquela coisa mal-amassada surja como que por enquanto algum ser humano, só pela força do tempo. E no caso dele, ele pensa – e quando pensa acende outro cigarro -, a troco de nada. Para dizer as coisas claramente, ele conclui todos os dias: essa criança não lhe dará nada em troca. Sequer aquele prazer mesquinho, mas razoável, de mostrá-lo aos outros como um troféu, já antevendo secretas e inauditas qualidades no futuro daquele (que seria um) belo ser. Se eu escrever um livro sobre ele, ou para ele, o pai pensa, ele jamais conseguirá lê-lo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Capas Bregas

Se tem uma coisa que eu gosto mais do que belas capas de livros são péssimas capas de livros. Fico horas nas gôndolas da Livraria Cultura apreciando as capas mais toscas, que muitas vezes nem levam crédito. Mas quem elevou as capas bregas ao status de arte foi a editora responsável pela série Momentos Íntimos.

Abaixo, algumas das capas da série:












Se você gostou das capas e dos títulos, espere então para ver as sinopses desses livros, que posterei numa outra oportunidade.

domingo, 17 de abril de 2011

Factótum - Charles Bukowski

Há tempos quis fazer o ranking dos autores que mais li (seria fácil pois tenho todos os meus livros lidos anotados por ano de leitura), mas deixei a tarefa de lado por algum motivo desconhecido, mas provavelmente aqueles que estariam no Top 5 seriam (não necessariamente nessa ordem) Haruki Murakami, Erico Verissimo, Rubem Fonseca, Italo Calvino e Charles Bukowski. Esse último foi o que li primeiro deles, na adolescência. mesmo lendo (e relendo) seus livros até hoje,ainda o tenho como um escritor para adolescentes.

Abaixo, dois trechos do livro Factótum (L&PM, 2007, tradução de Pedro Gonzaga), que, como outros dele, é supostamente baseado nas suas experiências de vida.


Cap. 31
Quando voltei para Los Angeles, encontrei um hotel barato nas imediações da Hoover Street e fiquei na cama e bebi. Bebi por algum tempo, três ou quatro dias. Não conseguia achar disposição para ler os classificados. A ideia de me sentar diante de um homem e sua mesa e lhe dizer que eu queria um trabalho, que eu tinha as qualificações necessárias, era demais para mim. Francamente, eu estava horrorizado diante da vida, o que um homem precisava fazer para comer, dormir, manter-se vestido. Então fiquei na cama enchendo a cara. Quando você bebia, o mundo continuava lá fora, mas por um momento era como se ele não o trouxesse preso pela garganta.

...
Cap. 65
Nada pior do que terminar uma boa cagada, esticar a mão e encontrar um rolo de papel higiênico vazio. Mesmo o ser humano mais monstruoso sobre a face da terra merece um papel higiênico para limpar o rabo. Algumas vezes, ao esticar a mão e não encontrar papel, eu ia em busca de um protetor para quebrar um galho, mas, subitamente, descobria o reservatório também vazio. Então você se põe de pé e vê que o que estava usando acaba de cair na água. Depois disso, sobram-lhe poucas alternativas. A que descobri mais satisfatória é limpar o rabo com as cuecas, jogá-las na privada, dar descarga e entupir o vaso.