quarta-feira, 21 de abril de 2010

Entrevistas de Playboy - Mohammed Ali

"Eu compro só pelas entrevistas."
Quem nunca ouviu essa justificativa de alguém constrangido de ler a revista Playboy? Eu mesmo já me vali dela muitas vezes, quando tinha meus 13 anos... Mas a verdade é que, sim, não há entrevistas como as da Playboy. Sem o rigor da pauta do momento, as entrevistas publicadas na Revista Playboy (tanto a americana quanto a nacional) são resultado de longos e informais bate-papos onde os mais variados tipos de entrevistados (dos mundos artístico, político, esportivo, empresarial, etc) dizem coisas que não costumam revelar em outras oportunidades.

Ao longo dos anos, a editora Abril lança uma coletânea de entrevistas publicadas na revista. Colocarei aqui trechos de algumas delas, reunidas no livro As 30 melhores entrevistas de Playboy (Editora Abril, 2005, 313 páginas). Uma das coisas mais interessantes dessas entrevistas é que muitos dos entrevistados, respeitados e admirados na sua área de atuação, revelam-se pessoas normais na sua fala, ou seja, mostram-se simples, banais e também ignorantes, preconceituosos e com visão estreita. O livro, assim, é um documento histórico, onde podemos ver que pessoas que já viraram nome de rua e de escola eram não muito mais que ególatras ensandecidos e bastante confusos (mas alguns se salvam).

O primeiro exemplo é o astro do boxe Mohammed Ali, em entrevista de 1975 à Playboy americana.

Abaixo, alguns trechos selecionados:

Antes de me tornar um muçulmano negro, tive uma namorada branca por dois dias. Não me senti bem, tinha que disfarçar, sair de mansinho. Homens negros com mulheres brancas podem até achar que estão apixonados, que está tudo ótimo, mas você os vê na rua e eles estão envergonhados. E vi como isso era imbecil. Hoje estou casado e apixonado por uma negra linda. Se não estivesse, estaria correndo atrás de outra negra linda.


Você acha que vai se tornar uma lenda nacional americana?

A lenda de Mohammed Ali já está escrita, eu mesmo a escrevi.


Falando nisso: é você mesmo quem escreve as poesias que você lê?

Claro. Ei, meu chapa, sou tão bom que já me chamaram para ser catedrático em Oxford. Sabe, sou um sujeito do mundo, que gosta de gente, de movimento, mas quando me vejo numa cidade, só penso em voltar para o interior. Barulho, néon, carros, isso enlouquece uma pessoa. O melhor lugar do mundo, para mim, é minha chácara no interior da Pensilvânia: lá posso treinar, escrever, viver em paz. E escrevo o tempo todo que estou por lá, mesmo em época de treinamento. Sabe, foi lá que escrevi o melhor poema do mundo.


Como você sabe que é o melhor do mundo?

Porque explica a verdade. Alguma coisa pode ser melhor que isso?É uma verdadeira obra-prima. Mas não tenho feito só poemas. Quer ouvir alguns dos meus pensamentos?


Tenho outra escolha?

Ouve só: “O homem sem imaginação tem os pés na terra; ele não tem asas, não sabe voar”. E este: Quando estamos certos, ninguém se lembra; quando erramos, ninguém se esquece”. Gosto muito deste, ouve só: “A riqueza do homem está no conhecimento; não está no banco, ele não a possui, porque está no banco”. Pegou todos, hein?


Peguei, Mohammed.

Então tem mais: “O carcereiro está em pior situação do que o prisioneiro, porque, enquanto o corpo do prisioneiro está fechado, é a mente do carcereirto que está aprisionada”. Sábias palavras de Mohammed Ali! E este, sobre a beleza, ouça lá: “Só quem atingiu a beleza interior é que pode apreciar a beleza em todas as suas formas”. E o que você acha deste: “O amor é uma rede em que os corações são apanhados como peixes”.


Um pouco piegas, não é, Ali?

Na hora que eu te vi, percebi logo que não era um cara inteligente. Mohammed Ali é muito mais profundo que o boxe, meu filho.


Você está parecendo uma cópia em negativo de um racista branco. Vamos lá: você acha que o linchamento é a resposta ao sexo inter-racial?

Na América, um negro deve morrer se for apanhado com uma branca. E os brancos sempre os mataram. Lincharam negros que olharam para mulheres brancas. Mas nós mataremos qualquer homem, branco ou negro. Diga isso ao presidente – ele não vai fazer nada a respeito. Diga isto ao FBI: vamos matar qualquer um que se engraçar com as nossas mulheres. Que ninguém mexa com elas.


E se uma mulher muçulmana quiser sair com um não-muçulmano, negro ou branco?

Nesse caso, ela morre também.


E se todos os negros americanos se tornasse muçulmanos, o que você acha que aconteceria?

O presidente Ford chamaria nossos líderes e negociaria os estados que estava disposto a nos ceder.


Entregar uns tantos estados aos líderes religiosos?

Talvez sim, talvez não. Talvez nos dar a Geórgia, o Alabama, O tennessee, o Kentucky, e nós nos fecharíamos por lá. Os brancos teriam que mostrar passaporte para entrar. Ou então promover um êxodo em massa. Gostaria de poder ver isso antes de morrer. Mas agora deixa eu perguntar uma coisa.


Manda.

Você acha que eu ainda sou tão bonito como no começo da carreira?


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