Trechos de entrevista de Gabriel García Márquez em1983
Cem anos de Solidão será transformado em filme, como se afirma?
Jamais. Os produtores me ofereceram enormes quantias pelos
direitos, mas eu recuso. A última oferta, acredito, foi de 2 milhões de
dólares. Não quero vê-lo transformado em filme porque quero que os leitores
continuem imaginando os personagens da forma como eles os vêem, imaginam. Isso
não é possível no cinema. No cinema a imagem é tão definitiva que o espectador
não pode mais imaginar o personagem como deseja, mas sim como a imagem impõe.
Uma cena memorável de
Cem Anos é a do padre que levita
quando bebe chocolate quente. Como é que você teve essa ideia?
Bem, havia um padre em Aracataca de quem se dizia que era
tão santo que se elevava do chão quando levantava o cálice durante a missa.
Quando escrevo sobre aquele episódio, ele não me pareceu acreditável. Ora, se
eu não acreditar em algo, o leitor também não acreditará. De forma que decidi
ver como ficaria com outros vasos e líquidos. Bem, ele começou a beber todo
tipo de coisa, e nada funcionava. Finalmente fiz ele beber Coca-Cola, e me
pareceu a bebida perfeita! Contudo, eu não queria fazer propaganda gratuita da
Coca-Cola, de forma que dei ao padre chocolate quente, o que também pareceu
acreditável. Se eu fosse adiante com a Coca-Cola, iríamos ver grandes outdoors
na América Latina dizendo: SUBA AOS ARES COM COCA-COLA!
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