segunda-feira, 28 de março de 2011

Elogio da Loucura

No livro Elogio da Loucura (L&PM, 2003, tradução de Paulo Neves), de Erasmo de Roterdam, escrito no século 16, o autor faz críticas sarcásticas a diversos tipos de pessoas e instituições. O mais interessante é que, mesmo séculos depois, muitas delas permanecem bastante atuais.

Eis um trecho interessante:



Pode-se colocar na mesma classe aquelas pessoas que não gostam de outra coisa senão da caça. É um prazer imenso, segundo eles, ouvir o som rude e desagradável das trompas e os latidos medonhos dos cães. Acho até que eles cheiram o excremento dos seus cães com tanta volúpia como se fosse almíscar. Que prazer quando chega o momento de dilacerar um animal selvagem!  Cortar, arrancar os membros dos bois e dos carneiros é uma ocupação vil e desprezível que se delega à gentalha; mas dilacerar os membros palpitantes de um animal selvagem é um exercício nobre e glorioso reservado apenas aos heróis. É de joelhos, com a cabeça descoberta e uma faca consagrada a essa finalidade (pois seria uma crime empregar uma outra), é com certos gestos, com um certo respeito religioso que se realiza essa imponente cerimônia, enquanto os assistentes, dispostos em silêncio ao redor do sacrificante, admiram, como algo maravilhoso e inédito, esse espetáculo que talvez já tenham visto milhares de vezes. Feliz o mortal que é convidado a degustar uma pequena porção do animal! É uma honra que ele considera como um dos títulos mais gloriosos de sua família... Tudo o que ganham esses caçadores determinados é que eles se tornam, no final, quase tão selvagens quanto os animais que perseguem e comem. 

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