segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Marketing na Literatura

Claro que você já viu marcas de produtos nos livros que você lê. Talvez isso não seja tão comum na literatura brasileira, mas na americana é difícil um best-seller que não apresenta marcas conhecidas. E isso é bem razoável: é diferente dizer que alguém dirige uma Mercedes ou um Fusca, ou que veste uma Levi's ou um Armani.  Em A Cura de Schopenhauer, o protagonista jamais toma café, ele "para num Starbuck's". Nos livros de Murakami ninguém simplesmente fuma, mas "acende um Marlboro". Falando em Murakami, os índices onomásticos de seus livros deixam bem evidentes o uso de nomes de marcas, que são, muitas vezes, referências de cultura pop. Mas aí fica a dúvida: será que não rola jabá na literatura? As editoras e os autores receberiam uma grana extra para fazer propaganda de certos produtos, assim como acontece no cinema?

Stephen King comenta o assunto neste trecho de uma entrevista para o The Paris Review.


O uso de nomes de marcas em seus romances parece irritar alguns críticos.
 
KING
Eu sempre soube que as pessoas teriam um problema com isso. Mas eu também sabia que nunca ia parar de fazer isso, e ninguém nunca ia me convencer de que eu estava errado ao fazê-lo. Porque toda vez que eu fiz, o que eu sentia era este bang! como se eu tivesse acertado na mosca, como Michael Jordan em um arremesso.
Às vezes o nome da marca é a palavra perfeita, e ela vai cristalizar uma cena para mim. Quando Jack Torrance está se enchendo de Excedrin em O Iluminado, você sabe exatamente o que é. Eu sempre quis perguntar a esses críticos, alguns são escritores, alguns deles professores de literatura da faculdade -Que merda que você faz? Abre o armário de remédios e vidros cinzentos vazios? Você vê o shampoo genérico, a aspirina genérica? Quando você vai ao mercado e compra umas cervejas, ele diz apenas cerveja? Quando você abre a porta da sua garagem, o que está estacionado lá dentro? Um carro? Apenas um carro?

E então eu digo para mim mesmo, eu aposto que eles fazem isso. Alguns desses caras, os professores universitários, o cara, digamos, cuja idéia de literatura parou com Henry James, eles são ignorantes sobre ficção Americana e eles transformaram a sua ignorância em uma virtude. Eles não sabem quem Calder Willingham foi. Eles não sabem quem Sloan Wilson foi. Eles não sabem quem Grace Metalious foi. Eles não sabem quem nenhuma dessas pessoas são, e eles têm orgulho disso. E quando abrem a porta do armário de remédios, acho que talvez eles vêem vidros genéricas, e isso é uma falha de observação. E eu acho que uma das coisas que eu tenho que fazer é dizer, é uma Pepsi, OK? Não é um refrigerante. É uma Pepsi. É uma coisa específica. Diga o que você quer dizer. Diga o que você vê. Faça uma fotografia, se você puder, para o leitor.


O francês Michel Houellebecq também é um fã do uso de marcas em seus livros, como afirma nesta entrevista também para o The Paris Review.


Você adora citar nomes de produtos. Por exemplo, "Robalo com cerefólio Monoprix Gourmet".
Houellebecq
"Robalo com cerefólio..." É interessante. É bem escrito. Eu também uso os nomes de produtos porque eles são, objetivamente, parte do mundo que vivo. Mas também tenho a tendência, é verdade, de escolher o produto com o nome mais atraente. Por exemplo, cerefólio é uma palavra muito atraente, mas não tenho idéia do que é cerefólio. Você quer comer algo com cerefólio. É bonito.

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