“Quando comecei a trabalhar em uma editora, chegou a mim uma tradução do inglês, cujo original eu não podia controlar por ter ficado nas mãos do tradutor. Comecei, de todo modo, a ler para ver se o italiano “fluía”. O livro contava a história das primeiras pesquisas sobre a bomba atômica e a certa altura dizia que os cientistas, reunidos em determinado lugar, começaram os trabalhos fazendo “corse di treni” [corrida de trens]. Parecia-me estranho que pessoas que deveriam descobrir os segredos do átomo perdessem tempo com jogos tão insossos. Donde, recorrendo a meu conhecimento do mundo, inferi que os tais cientistas deviam estar fazendo outra coisa. Nesse momento, não sei se me ocorreu uma expressão inglesa que conhecia ou se fiz, antes, uma curiosa operação: tentei retraduzir mal, para o inglês, a expressão italiana e logo me ocorreu que aqueles cientistas fizeram training courses, ou seja, cursos de atualização, o que seria mais razoável e menos dispendioso para os contribuintes americanos. Naturalmente, assim que tive o original nas mãos pude ver que era isso mesmo e providenciei para que o tradutor não fosse pago por seu trabalho imundo."
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Quase a mesma coisa - Umberto Eco
Umberto Eco escreveu um livro sobre tradução chamado Quase a mesma coisa (Record, 2007). Claro que esse é o título traduzido, o original é "Dire quasi la stessa cosa". Quem já leu trabalhos de não-ficção de Eco sabe que ele usa extenso material de pesquisa para ilustrar suas teses, o que, às vezes, pode deixar a leitura um tanto maçante. Gostaria de dizer que a leitura de Quase a mesma coisa é fluida, mas, para o leitor comum, ela empaca em insistentes detalhes acadêmicos. Mesmo assim, muitos trechos são interessantes tanto para o tradutor profissional como para o leigo. Só o fato de, em suas quase 500 páginas, o autor jamais usar a batidíssima expressão "traduttore-traditore" é um ponto para o livro. Abaixo, um trecho da obra:
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