terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

No llores por mi


Às vezes quero ver um filme justamente pelo seu potencial de chorabilidade. Sim, eu gosto de chorar em filmes. Quando isso acontece, parece que o filme valeu a pena, pois pelo menos me tocou de alguma forma. Mas não é um filme pra baixo, é aquele que dá uma tristeza gostosa, sem te carregar pra depressão. E prefiro quando sou pego de surpresa, detesto perceber que estavam tentando me manipular, e que eu DEVERIA chorar justo naquela cena, entre os minutos 55 e 58. Isso aconteceu, por exemplo, no badalado mas desonesto Menina de Ouro. (Aliás, por que será que tudo que o Clint Eastwood faz é levado ultra a sério nos últimos anos? Só porque ele ficou velho começou a merecer mais respeito e consideração? Será que os críticos se sentem covardes ao criticar um idoso?) Moça pobre e desacreditada vence na vida com ajuda de treinador durão (e também desacreditado) e no auge da carreira se descobre portadora de uma doença terminal. Poxa, já tínhamos visto o enredo desse filme uma centena de vezes na Sessão da Tarde. Se fosse numa novela mexicana, ninguém levaria a sério. Prefiro aquelas cenas em que me descubro solitário no meu lacrimejo, onde não me perceba vítima de manipulação (mesmo que na verdade esteja sendo).


Mas, falando assim, até parece que sou um chorão de cinema, mas não é bem assim. Não é qualquer filme que tem esse efeito sobre mim. Mas tem um filme que me pegou de jeito. Mar Adentro, do diretor Alejandro Amenábar. Fui sozinho ao cinema e, quando chegou na cena do “voo pela janela” com a trilha de Nessun Dorma tocando a todo volume, desabei. Está certo que tinha parado com o lítio na época e meu humor estava meio desestabilizado. Mesmo assim, quis me testar e fui ver o filme de novo, na mesma semana, no mesmo cinema. Resultado: quase desidratei na minha poltrona. Anos depois, comprei o DVD e me preparei para o filme de novo. O filme continua excelente, mas eu já estava totalmente anestesiado. Seria a falta da tela grande? Não sei.


Mas enrolei até aqui só para mencionar o filme que fui assistir ontem, Amor Sem Escalas (Up in the air), de Jason Reitman, mesmo diretor de Juno e Obrigado por fumar. O título em português engana, ainda mais com o cartaz feito para o cinema brasileiro, que dá a entender que se trata de uma comédia romântica tradicional, e que, por ser com o George Clooney, possivelmente terá um final feliz. Mas, como na vida, nem tudo é o que parece. Clooney interpreta um profissional especializado em demitir pessoas justamente numa época de grande recessão nos EUA. Como está sempre em viagem, passa mais tempo no avião que em casa, sem raízes familiares ou sentimentais de qualquer espécie. O elenco principal está muito bom, assim como todos os coadjuvantes. Os diálogos inteligentes são raros de se ver no cinema americano hoje em dia.


O filme também tem o mérito de tratar uma condição masculina poucas vezes tratada com honestidade no cinema. Há humor, há romance, mas também é sobre o vazio da solidão e a angústia do tempo. Não, não é um filme para chorar. É pior: é para deixar o choro preso na garganta, sem ter onde derramá-lo.



NOTA: 8,2

Nenhum comentário:

Postar um comentário