terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Rubem Fonseca - O romance morreu

Estou sempre adiando a estatística de qual autor mais li na vida. Talvez porque não me decido se devo considerar o número de livros ou o número de páginas... Mas certamente Rubem Fonseca está entre os mais lidos - seja em número de livros ou de páginas. E quem o lê sabe que, apesar de ele ter um estilo próprio - bastante imitado, por sinal - também apresenta textos bastante diversos entre si ao longo dos anos, despertando certa curiosidade pela sua persona. Como é um dos famosos "escritores reclusos", a curiosidade aumenta mais ainda. E eis que surge um livro que vem para desvendar um pouco a aura de mistério que envolve sua vida pessoal. Será?


Não, não se trata de uma biografia. Em O romance morreu [Companhia das Letras, 2007] temos um Fonseca cronista, falando o que pensa sobre uma variedade de assuntos triviais. E o mais intrigante é que o escritor é bem menos interessante - e aparentemente menos inteligente - que os seus personagens. Muitos dos textos do livro poderiam ser encontrados em um blog despretensioso de alguém não inclinado ao mundo profissional das letras. São textos que decepcionam pela banalidade. Para quem se acostumou com suas narrativas cruas, cheias de violência e ironia, o autor está irreconhecível. Coloco aqui apenas um exemplo, para o leitor ter uma ideia do que vai encontrar em O romance morreu.



Cinema e pipoca: não existe união mais perfeita. Vá comer pipoca no cinema, é um procedimento universal. Mas não faça barulho, cuidado com os sacos de papel, eles podem emitir um ruído desagradável se forem mal manipulados. Cinema é pra ser visto em silêncio.

Atualmente, a melhor pipoca dos cinemas do Rio me parece ser a do cinema Leblon, hoje dividido em duas salas. Já fiz o teste várias vezes, e a qualidade tem se mantido inalterada há bastante tempo.

Tenho medo de que um dia o Leblon, que tem projeção e som de aceitável qualidade, abandone a pipoca e em seu lugar passe a oferecer café expresso aos frequentadores, para ser consumido na sala de espera – tente assistir a um filme bebendo cafezinho –, e que outros cinemas também sigam esse mau exemplo de exclusão. Café expresso é uma delícia que pode ser provada em inúmeros lugares da cidade, até em açougues, como o ótimo cafezinho da delicatessen do talho capixaba. Mas pipoca boa, fora de casa, já que as das carrocinhas decaíram muito, só existe nos cinemas, o lugar ideal para ser desfrutada. É preciso preservar essa tradição.

2 comentários:

  1. Discordo. É claro que pode haver n interesses por trás da publicação, mas o que prefiro ver é uma apunhalada contra a idolatria. Eu estudo literatura. Só li dois contos deste cara e pude perceber que é um escritor muito astuto. O exemplo postado por você apenas deixa claro que todos partem de um mínimo, bobo, grotesco e banal. E por mais que alguém desenvolva ou demonstre um talento incrível durante a vida, este mínimo sempre estará ali, como um alicerce amalgamado em tudo o que foi construído em cima. Ele mostra apenas que qualquer pessoa, sob as devidas circunstâncias, pode se tornar grande e, ao mesmo tempo, que qualquer grande continua tendo o seu lado bobo, simples e medíocre. No caso destes textos, um pouco menos de fuga. Menos literatura, mais realidade. Não idolatre, não desrespeite. Eu, você, ele, somos da mesma miséria. O escritor, depois de grande, divide a parte pequena de si para deixar isto claro.

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  2. Eu normalmente dou alguma respostinha sarcastica e pretensamente espirituosa para os comentarios deste blog, mas infelizmente dessa vez tive que concordar.
    abcs

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